quinta-feira, 15 de março de 2012

Mergulho em Paraty

Pontos de mergulho em Paraty:
01 - Ilha dos Ganchos
02 - Ilha Comprida
03 - Ilha Catimbau
04 - Ilha dos Meros
(a Ilha dos Cocos fica próxima)
05 - Praia Vermelha   
06 - Praia da Lula
07 - Paraty-Mirim
08 - Cachadaço
09 - Cajaíba
10 - Praia dos Antigos
Fonte: http://www.paraty.com.br/mergulho.asp






Fomos para Paraty no último final de semana, animados para mergulhar novamente. E começo este relato com a informação mais celebrada pela minha pessoa sobre a experiência: Paraty é o destino perfeito para as pobres almas que, como eu, sofrem com enjoo de movimento.

O mar é tão calmo que o barco vai suave e é possível curtir o sol e a paisagem em vez de entrar naquele estado azul-zumbi de quem está tentando manter o estômago do lado de dentro do corpo.

Foi com essa feliz constatação que, aproveitando o dia ensolarado e o céu aberto, venci sem problemas no sábado de manhã o percurso de lancha até a Ilha dos Meros para nosso primeiro mergulho.

E desta vez havia um fator inesperado na equação. A turma com a qual viajávamos era formada por dois grandes grupos, um de check-out (o chamado batismo) básico e outro de check-out Rescue, além de um grupo menor de check-out Avançado.

Ou seja: mais ninguém ali estava apenas a passeio, e os dive masters estariam na água acompanhando os grupos em prova. Isso basicamente significava que o Mark e eu estaríamos à mercê do nosso senso de localização, que, no meu caso, é inexistente. Eu mal consigo “navegar” pela Marginal Tietê sem me perder ou me confundir com as placas, imagine ter que se localizar debaixo d’água usando referências tão precisas quanto uma pedra ou a vegetação…

Mas o local era bem abrigado, sem muita correnteza e, depois de pegar algumas dicas com os dive masters, fomos em frente. Dessa vez, lição aprendida com a Laje de Santos: não esqueci o shampoo de bebê na máscara, que lindamente não embaçou.



A alegria de aproveitar a paisagem (foto por Theo Costa)

Mergulho 1 – Ilha dos Meros, ponta sul

O começo foi meio confuso: nadávamos para um lado achando que estávamos indo para o outro, tivemos que subir uma vez para nos localizar, mas por fim escolhemos um sentido e seguimos com ele.

Com o mar tão calmo, eu achava que teríamos uma boa visibilidade, mas a água estava bastante turva. Nada que se comparasse ao nosso check-out em Ubatuba, quando eu mal podia enxergar o braço do Mark do meu lado, mas bem inferior à nossa última experiência em Santos.

Outra coisa que pegou foi o termoclina. A diferença de temperatura era tamanha que não dava para ir muito abaixo de 5m sem as mãos começarem a doer de frio, e os bolsões gelados eram bem mais extensos do que tínhamos sentido em Santos. Mesmo os peixes procuravam ficar mais perto da superfície, no quentinho, então foi um mergulho bem raso.

Ainda assim, deu para aproveitar muito. Vimos muitos tipos de peixes e corais e algumas curiosidades, como uma gruta cuja entrada era guardada por uma grande placa de metal com o símbolo da maçonaria e uma estátua gigante de Jesus Cristo no fundo do mar, coberta de vegetação e com peixes nadando inabalados ao redor.

Um dos dive masters indicou que havia um jatinho afundado em um ponto ali perto e fizemos de tudo para encontrá-lo, mas a visibilidade não estava essas coisas e o mar acabou nos levando para longe. Quando subimos mais uma vez para nos localizar, percebemos que tínhamos que voltar um bom pedaço.

A correnteza já estava bem mais forte nessa altura e insistia em nos puxar para o lado contrário. Tive dificuldades em compensar ao tentar descer de novo, um pouco pelo frio, um pouco pelo nervoso de sentir o mar puxando, então, depois de 47 minutos de mergulho, acabamos desencanando de descer novamente e vencendo no nado a distância até o barco, com o meu barômetro já indicando o ar nos 50 BAR.

Isso ilustra como o nervosismo interfere no consumo de ar: eu geralmente termino meus mergulhos com muito mais ar no cilindro do que o Mark, mas dessa vez foi o contrário.

Mergulho 2 – Ilha dos Cocos


Na esperança de maior visibilidade e menos correnteza, saímos em direção à Ilha dos Cocos. Totalmente livre de enjoos, eu pude até cometer as heresias das heresias e realizar o impensável: comer no barco.

O cachorro-quente que a maioria das companhias costuma oferecer de lanchinho entre um mergulho e outro para mim sempre foi uma espécie de inalcançável manjar dos deuses. Poder desfrutar pela primeira vez da regalia foi sensacional. Nunca um cachorro-quente, mesmo sem condimento nenhum (que o seguro morreu de velho), foi tão gostoso!

Aportamos em uma baía bem abrigada que à primeira vista não me impressionou. Era uma área cercada de casas, com um píer em uma das extremidades, que parecia mais uma represa.

Mas foi só cair na água que a minha primeira impressão se mostrou errada. O termoclina ainda era forte, mas a visibilidade estava bem melhor e lugar era cheio de vida, movimento e cores. Logo no início do mergulho tivemos a sorte de avistar uma arraia nadando na maior calma e saímos desembestados atrás dela, porque é um peixe lindo de se ver (e perseguir!).

Vimos muitos peixes – alguns cações violas, que são parecidos com a arraia, mas têm o corpo mais chato e a cauda maior – e muitos corais, estrelas marinhas e outras formas de vidas. O frio ainda castigava bastante, e o Mark provavelmente bateu o recorde mundial de câimbra, sofrendo com três durante o mergulho. O shampoo de bebê fez milagres com a minha máscara, que não embaçou nada, mas o Mark sofreu com a dele.

Siga aquele peixe! (foto por Theo Costa)

Como eu geralmente sou a parte da dupla dando problema, foi bem diferente ver o Mark desconfortável e eu tão de boa. Tentei fazer o que podia para ajudá-lo, mas também sem ficar no caminho. Ele levou a situação super bem, muito mais do que se fosse comigo, e o mergulho foi excelente.

O único contratempo que tive foi quando o mordedor do meu regulador rompeu e começou a entrar água. Isso é comum acontecer com reguladores alugados, tanto pelo excesso de uso como porque mergulhadores iniciantes costumam descontar a tensão travando o regulador na boca com toda força do mundo. Depois de sofrer com dores na mandíbula após meu primeiro mergulho, eu nunca mais tive esse problema. Mas o mordedor já vinha dando sinais de fraqueza antes e no segundo mergulho ele se foi, deixando o respirador frouxo na minha boca e dando espaço para a entrada de água.

Se em Santos eu entrei em pânico quando o mesmo aconteceu e subi para a superfície chamando pela minha mãe, agora eu agi do jeito certo: mantive a calma, tirei o regulador da boca, continuei a respirar soltando bolhinhas (a regra número um do mergulho, vale lembrar, é nunca prenda a respiração), localizei e pus na boca meu regulador reserva, lembrando-me de soprar antes de puxar ar para expulsar a água dele.

A operação é extremamente simples e é um dos processos básicos que você aprende no curso de iniciante. Mas, na hora do vamos ver, quando você está lá embaixo e de repente começa a sentir água entrando na boca, a primeira reação (pelo menos a minha) é surtar e querer subir. Então, licença para dizer que fiquei contente com meu autocontrole.

Com pontos de referências muito mais práticos desta vez (nem eu sou tapada o suficiente para deixar de notar um píer debaixo d’água), nossa navegação foi bem tranquila, não precisamos subir nenhuma vez e, mantendo a profundidade na média dos 5m por causa do frio, o consumo de ar foi bem baixo. O mergulho durou 60 minutos, nosso recorde, e eu ainda tinha 75 BAR de ar quando subimos. Aí, sim!

Interlúdio – Paraty em terra firme

Fomos à noite para o centro de Paraty, um grupo de vinte mergulhadores desesperados por comida. Uma francesa que estava conosco fez um comentário interessante, de que ali “não parecia o Brasil”. A cidade é realmente uma viagem no tempo, com ruas de pedra, construções coloridas e lajotas portuguesas em quase todas as casas.

Paramos no primeiro restaurante com lugar para a galera toda. Uma dica para quem for para Paraty: experimente os doces vendidos nos carrinhos de rua. Eles estão espalhados por vários pontos do centro histórico e trazem opções deliciosas. Comi um pedaço de bolo de tapioca de chorar de tão bom.

Outra dica: não utilize quantidade de mesas livres para abrigar seu grupo como critério para escolher restaurante, mesmo que fome esteja te mandando parar no primeiro lugar que aparecer pela frente.

Mergulho 3 – Ilha dos Meros, ponta norte

Domingo era meu aniversário e, mesmo tendo acordado com a cabeça estourando de dor, eu fui mergulhar na esperança de que uma tartaruga aparecesse para me dar os parabéns. Voltamos para a Ilha dos Meros, dessa vez a ponta norte, esperando melhores condições. A visibilidade tinha melhorado, mas o termoclina ainda era forte e das poucas vezes que descemos até 6m eu achei que fosse congelar.

Mantivemos o mergulho a 5m e fomos rodeando por entre as rochas.  A experiência de mergulhar entre pedras com corais é muito legal. É bacaníssimo parar em frente a uma pedra e ficar lá quietinha, controlando a respiração para não agitar muito a água, e em pouco tempo começar a enxergar um monte de coisinhas se mexendo, peixes que tinham se escondido saindo debaixo da vegetação, pequenas vidinhas andando pelos corais.

Nenhuma tartaruga apareceu, para minha frustração, e conforme o mergulho progredia minha dor de cabeça só piorava. Depois de um tempo, meu estômago também começou a dar sinais de não estar nos melhores dias. Não permiti que isso atrapalhasse a experiência, mas o incômodo permaneceu. A princípio, achei que  o cinto de lastro podia estar apertado demais na região do estômago ou que a cabeça doía por barotrauma de máscara. Mexi no cinto como podia e me policiei para deixar ar e água na máscara para aliviar a pressão no rosto, mas nada fez muita diferença.


Corais são legais

Consegui me distrair das mazelas com a fantástica paisagem diante dos meus olhos, com os corais roubando a cena. Vimos muitos peixes, de todos os tamanhos e cores, desde milimétricos até peixões enormes e coloridos. Estávamos controlando nossa localização pelo tempo de mergulho e consumo de ar e, quando resolvemos voltar, optamos por contornar as pedras que havíamos rodeado na ida.

Continuamos a nadar crentes de que encontraríamos nosso ponto de referência. A vegetação foi mudando, os corais deram lugar a um paredão de areia, e aquela sensação de “não passei por essa rua na ida” foi batendo forte. 57 minutos de mergulho depois, resolvemos subir. E aí descobrimos que já havíamos passado faz tempo do barco, que nessa altura era só um pontinho lá longe no horizonte.

Sem muito que fazer a respeito, começamos a nadar de volta, concluindo que nos perdemos quando contornamos as pedras pelas quais tínhamos nadado no meio na ida. E aí, debaixo do sol, cansada e com o peso do equipamento se fazendo sentir, meu mal-estar ficou forte. A cabeça latejava, o estômago revirava… Mas mantive o foco na direção do barco, coloquei o rosto na água e fiquei com o respirador na boca para nadar mais rápido. Nesse período, ouvi três apitos vindos do barco, mas super achei que não era comigo.

Até que dois mergulhadores da equipe de check-out de rescue e um dive master apareceram nadando ao nosso encontro. Eles ficaram preocupados por o capitão do barco ter sinalizado três vezes para nós perguntando se estava tudo ok e não ter tido resposta. Pois é, aqueles apitos. Ops, foi mal aí, gente.

Nadamos em grupo de volta para o barco, e eu suponho que minha cor não devia estar das mais saudáveis, porque o pessoal do resgate se ofereceu para me rebocar e me livrar do equipamento. Eu aceitei feliz, me livrei do peso todo e fui batendo perna e segurando na boia até perto do barco. Não quis subir porque achei que ficaria pior.

Mas o estrago já estava feito e lógico que eu fui premiada por passar mal na única viagem em que efetivamente não senti enjoo por causa do barco. Maldito peixe com molho de camarão. Vomitei até a alma, sendo amparada por um dos membros da equipe de resgate e o Mark, que mais uma vez foi o herói do dia e não saiu do meu lado.

O que posso dizer sobre a experiência: não recomendo a ninguém vomitar com a cabeça dentro d’água. E feliz aniversário para mim, né!

O não-mergulho, ou fazendo a alegria da equipe de resgate


Depois do ocorrido, a cabeça ainda doendo e o estômago revirado, eu não tinha clima para voltar a mergulhar. Indiquei para o Mark que não ia rolar descer de novo e que ele deveria aproveitar para ir com o pessoal que tinha acabado o check-out avançado e ia só passear. Foi o que ele fez. Da minha parte, continuei no mar até meu estômago se acalmar o suficiente para eu subir no barco e de lá fiquei observando os exercícios da equipe que se formava em resgate.

O engraçado é que o pessoal de resgate parecia realmente grato por poder aplicar os conhecimentos adquiridos em uma “vítima” de verdade e vinha toda hora checar se eu estava bem. O curso parece ser extremamente cansativo – no dia anterior, perdemos a conta de quantas vezes os coitados tiveram que se jogar no mar e nadar em simulação de resgate –, mas também bem divertido, ainda que em um nível meio masoquista. Definitivamente, algo para se considerar fazer no futuro. Mas é preciso muita familiaridade com o equipamento e agilidade no processo de mergulho. Só o tempo que eu demoro para colocar as nadadeiras e a roupa de neoprene seria suficiente para uma vítima se afogar três vezes! Além de, é claro, tomar o cuidado de comer num lugar decente na noite anterior.

Mas mesmo com esse contratempo e com as sete longas horas de trânsito voltando para São Paulo depois, foi uma viagem que valeu a pena. Ter que se localizar por conta própria embaixo d’água te obriga a prestar muito mais atenção em coisas menores, não só nos peixes (se bem que seria a minha cara usar como ponto de referência “aquele peixão preto e amarelo”), e a ficar mais atento à vegetação, além de te forçar a manter a flutuabilidade e a profundidade constantes. Mesmo que não dê tão certo quanto você gostaria. No final, ficou a vontade de fazer o curso avançado logo para aprender a usar a bússola e ter uma ideia melhor de para onde se está indo.

Lições aprendidas com Paraty: comprar urgentemente uma luva para conseguir encarar termoclinas sem grandes problemas. Comprar uma nadadeira com alças no calcanhar (as minhas são fechadas) para facilitar a natação e a preparação para o mergulho - e quem sabe a futura certificação em rescue. Tomar cuidado com o que se come nas noites anteriores ao mergulho. E já começar a juntar dinheiro para o curso avançado!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Laje de Santos, a versão mais mal-humorada

E lá fomos nós conhecer a tão famosa Laje de Santos. A curiosidade com a laje já começou no curso básico, quando o professor indicou como um ponto de mergulho excelente e acessível para nós, paulistanos, mas que deveria ser desbravado preferencialmente após algumas outras experiências em lugares mais "calmos".

Antes de começar o meu relato, devo declarar que, ao contrário do Mark, que parece ter nascido com uma vocação e hiperatividade natural para isso, mergulhar para mim é um gosto adquirido e ainda em progresso. Por isso, não posso dizer que estava esbanjando de felicidade e bom humor por acordar às 5 da madrugada em um domingo e cair na estrada, mas a manhã que começava a se desenhar no horizonte prometia um dia bonito e quente, o nascer do sol foi lindo e eu ainda pude cochilar durante o caminho, o que tornou tudo bem mais suportável.

Descemos pontualmente às sete e meia da manhã na marina, como pedia a companhia que organizou a viagem. Claro que esperamos mais de uma hora para sairmos, e nessa altura o sol já tinha despontado, todo lindo e imponente no céu bem azul.

Foi uma hora e meia de barco até avistarmos a pedra em formato de baleia no horizonte, e ainda fomos brindados com um grupo de golfinhos brincando e pulando ao lado do barco. Só isso já teria feito a viagem valer a pena. Mas, quando ancoramos na laje, o mar estava tão cristalino que lá de cima do barco já dava para ver os cardumes formando manchas na água e as pedras no fundo. Não via a hora de me equipar e checar a paisagem de perto!

Mas primeiro é preciso passar pelo ritual da equipagem. E se espreme na roupa, puxa daqui, puxa dali, xinga um pouco, puxa uma perna, puxa a outra perna, encaixa os braços, quase desloca os ombros, respira fundo, puxa mais e sobe o zíper. E monta cilindro, checa colete, checa ar, checa respirador, checa respirador reserva, volta e checa tudo de novo, coloca o cinto do lastro, coloca nadadeira - isso, força -, veste colete, aperta colete, aperta mais um pouco, infla o colete, vai para ponta do barco, põe a máscara - lembrou do shampoo de bebê para não embaçar? -, segura o cinto do lastro, põe o respirador, segura a máscara, olha para o horizonte, respira fundo, passo de gigante e ae, ae, ae, tibum, você está na água!

Descemos em três duplas, o coração batendo rápido conforme o colete desinflava e a linha da água cobria a máscara. Respirar embaixo d'água ainda  é um susto para mim e meu cérebro demora alguns segundos para parar de gritar "MEU DEUS, ISSO É ERRADO!" e processar que está tudo bem, vamos lá, é só puxar e soltar o ar devagarinho pela boca, isso, olha só, muito bem!

Mas dessa vez a paisagem que se estendeu diante dos meus olhos não deixou espaço para pânico. Era inacreditável que um lugar tão perto de São Paulo - Santos, quem diria! - podia oferecer um mar tão cristalino e tantas formas de vida. Vimos peixes de todas as cores e tamanhos, nadamos no meio dos cardumes, vimos tartarugas, entramos nas fendas das pedras para encontrar peixes diferentes. Não havia tanta vegetação ou corais, mas quantidade de peixes era inacreditável. Também foi muito interessante sentir a diferença dos bolsões de água gelada e o efeito que o encontro das temperaturas fazia - a água parecia ganhar uma textura oleosa nesses pontos e, como os peixes preferiam ficar no quentinho, você disputava espaço com eles para chegar até o próximo bolsão quente.

Tudo lindo, até voltarmos para o barco para fazer o intervalo de superfície antes do próximo mergulho. Isso porque eu tenho a sorte de sofrer do chamado enjoo de movimento. Quando o barco está em alta velocidade, geralmente fico bem, mas é só ancorar que aquele vai e vem do mar que a maioria das pessoas considera sinônimo de tranquilidade para mim ganha a trilha sonora da cena do chuveiro em "Psicose". Eu tinha tomado um comprimido antes de embarcar, mas estava com o estômago quase vazio e ele não surtiu muito efeito.

Quem não sofre de enjoo em barcos não faz ideia de como é irritante ver todo mundo ao seu redor aproveitando e divertindo-se a valer - até comendo, o absurdo dos absurdos! - enquanto tudo o que você quer é que os deuses se compadeçam logo do seu estado e te acertem com um relâmpago na cabeça. Geralmente nessas horas eu fico fora do barco nadando e deixo os outros serem felizes, mas o sol estava tão forte que era impensável me expor a ele desse jeito, mesmo se injetasse o protetor solar na veia.

Foi uma longa hora e meia de tortura até chegar a hora de nos equiparmos novamente e ir para a água. Nessa altura, eu já estava tão irritada com o enjoo e os loopings que meu estômago dava que só queria sair do barco. E foi assim que eu cometi a besteira de não passar novamente shampoo de bebê na minha máscara, achando que a operação que tinha feito antes do primeiro mergulho ainda daria para o gasto.

Não deu, é claro, e para completar começou a entrar água no meu respirador quando eu puxava o ar. O nervoso de ver a máscara embaçando e de estar engolindo água tornou impossível conseguir compensar, e dá-lhe dor no ouvido. E calma, respira, sobe um pouquinho para o ouvido deixar de doer, alaga a máscara para desembaçar, cospe a água que entra na boca, tenta compensar, desce de novo e, caramba, mais água entrando no respirador, engole água, engasga, não, pára tudo, quero subir, me tirem daqui...

O dive master viu que eu estava entrando em pânico e subiu comigo, meio irritado com aquela novata que atrapalhava o grupo inteiro - porque lógico que no surto todo eu nem estava prestando atenção em seguir o grupo e o Mark estava mais preocupado em me acalmar. O dive master arrumou meu respirador para parar de entrar água. Consegui me acalmar e descer de novo para finalmente começar o mergulho, com a ajuda heróica do Mark, que não largou da minha mão.

Consegui aproveitar o mergulho, mas não tanto como o primeiro. Além de a visibilidade ter piorado um pouco, minha máscara não parava de embaçar e eu tinha que alagar e desalagar o tempo todo para conseguir enxergar - o que é uma encheção de saco quando você mergulha usando lentes de contato. Além disso, também pegamos uma certa correnteza e eu, que não tenho muita experiência, sofri um pouco para nadar literalmente contra a corrente. Como dá para imaginar, é bem cansativo.

Mas foi, sim, uma experiência ótima e vimos peixes de todos os tamanhos e cores e mais uma vez um cenário de tirar o fôlego. A vantagem de não enxergar direito pela máscara embaçada é de repente se ver cara a cara com um peixe que você não sabe de onde veio. O curioso é que os dois mergulhos foram feitos no mesmo lugar (as chamadas "piscinas"), mas foi só tomar uma direção diferente no segundo e dobrar um rochedo que parecia que estávamos em outro ponto. É uma diversidade absurda de linda.

E foi tudo tão bom que resisti bravamente à volta de barco, mesmo enjoada por ter que ir na cabine, já que com meu bronzeado de palmito não dava para encarar o sol lá fora. Conversando com um mergulhador bem mais experiente na volta, ele comentou que achava a laje um lugar fantástico, mas a complexidade era tanta que só depois de uns 40 mergulhos por lá dava para começar a entendê-la.

Não sei o que será dos próximos 38 mergulhos na laje de Santos, mas posso dizer que os dois primeiros foram um começo bem promissor. Já não vejo a hora de voltar!

(Lições aprendidas na Laje de Santos: nunca embarcar de estômago praticamente vazio, nunca deixar de usar shampoo de bebê na máscara antes de cair na água, nunca deixar de testar o respirador dentro d'água antes de descer).

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Laje de Santos

Fomos mergulhar na Laje de Santos neste final de semana. A Laje é uma ilha em forma de baleia localizada a 40 quilômetros da costa de Santos. É possível ir e voltar no mesmo dia – saímos de SP por volta das 6:00 e chegamos em casa por volta das 18:30.

Na ida à Laje, cerca de 1h30min de lancha, em que cruzamos a rota de inúmeros cargueiros com destino ao porto de Santos, fomos brindados com a visita de alguns golfinhos, que acompanharam as embarcações (creio que eram três), brincando e saltando em nossa frente.

Quando chegamos, logo fomos nos equipar para o primeiro mergulho. Passamos cerca de 50 minutos na água, que estava a uma temperatura média de 20°C, com bolsões de água mais gelada. Foi interessante notar que dava para identificar quando íamos entrar em águas mais geladas, pois na convergência entre a água mais quente e mais fria, a impressão que se tem é que há óleo na água, fomam-se umas ondinhas minúsculas – ou turbulências - visíveis em baixo da água!

Conforme avisados pelo organizador de nossa viagem, Armando, da Nautilus Dive, tivemos um pequeno problema de visibilidade – o excesso de peixes reduzia a visibilidade, que estava em torno de 20 metros! Um dos mergulhadores comentou até que viu uma tartaruga tentando espantar peixes para que pudesse nadar em paz! Vimos as espécies mais variadas incluindo cirurgião, salema e bodião além de tartarugas. Também pudemos ver umas fragatas e gaivotas

Em nosso segundo mergulho, outros 50-e-poucos minutos, a água estava um pouco mais turva (visibilidade talvez em uns 15 metros) e o frio mais presente. Havia também uma correnteza mais forte do que no primeiro mergulho. Fora um pequeno problema de embaçamento na máscara - esquecemos de passar shampoo infantil antes do mergulho – os mesmos cardumes e tartarugas nos aguardavam para um belo mergulho!